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Fiocruz obtém na Anvisa o registro de kit para diagnóstico molecular da febre maculosa

Carrapato fêmea da espécie ‘Amblyomma cajennense’. Foto: Maria Ogrzewalska.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) obteve na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o registro do primeiro kit de biologia molecular do país para detecção do material genético de bactérias causadoras de rickettsioses, em especial, a febre maculosa e o tifo.

Idealizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e produzido no Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), o Kit IBMP Biomol Rickettsiose utiliza a técnica de PCR em tempo real, capaz de identificar — com altos níveis de especificidade (94%) e de sensibilidade (100%) — a presença ou a ausência de bactérias do gênero Rickettsianas amostras coletadas.

A partir de um diagnóstico laboratorial mais rápido e específico, doenças causadas por esses agentes infecciosos podem ser identificadas na fase inicial, quando ainda não há anticorpos detectáveis que permitam a confirmação por meio de testes sorológicos.

“A Fiocruz tem um papel social histórico e mais uma vez está na vanguarda, desenvolvendo produtos diagnósticos necessários para a vigilância epidemiológica das doenças negligenciadas de importância para a Saúde Pública. É com orgulho e sensação de dever cumprido que entregamos mais este produto”, destaca o presidente da Fundação, Mario Moreira.

Recentemente, casos de febre maculosa em São Paulo acenderam o alerta das autoridades médicas e de saúde, e chamaram a atenção da população para o agravo, considerado pouco difundido.

“Os elevados níveis do teste vão ao encontro da atual necessidade de uma vigilância mais robusta da febre maculosa e outras rickettsioses, possibilitando ações mais efetivas e oportunas”, destaca Elba Lemos, pesquisadora do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC, onde o kit foi começou a ser construído.

“É importante a união de diferentes grupos e instituições para o desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem que o Brasil tenha uma maior autossuficiência nos seus testes diagnósticos e tratamentos”, reforça a pesquisadora.

A necessidade de criação de tecnologias que identifiquem causas de doenças de maneira mais precisa e em um tempo mais curto também foi enfatizado pelo diretor-presidente do IBMP, Pedro Barbosa.

“O Kit IBMP Biomol Rickettsiose se junta aos produtos do portfólio direcionado às doenças tropicais negligenciadas, juntamente com os kits para Tracoma, Hanseníase, Doença de Chagas, entre outros, e reforça a missão do IBMP em contribuir para o acesso e a democratização do diagnóstico mais preciso e eficaz e consequentemente a adoção do tratamento mais adequado ao cidadão brasileiro”, pontua.

Com o avanço no diagnóstico de febre maculosa e outras rickettsioses, Elba lembra que a febre maculosa brasileira precisa ser tratada de forma ágil devido à gravidade da evolução da doença decorrente dos danos causados pela bactéria ao organismo humano.

“Quando o paciente chega na unidade de saúde com suspeita de febre maculosa, deve-se coletar as amostras para análise e iniciar o tratamento imediatamente, mesmo sem confirmação laboratorial”, acrescenta.

Mais de uma década de desenvolvimento

A proposta de criação de um kit de biologia molecular para detectar rickettsioses começou a ser desenhada em 2009, a partir de projetos de pós-doutorados no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC, em colaboração com o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos).

Sob a supervisão de Elba, as pós-doutorandas, na época, Maria Inês Doria Rossi e Daniela Tupy de Godoy, além da pesquisadora Tatiana Rozental Burdman, estudaram a viabilidade de tecnologias que identificassem bactérias Rickettsia e de outros gêneros.

Na sequência, a colaboração foi transferida para o IBMP e a pesquisa prosseguiu com Liana Lumi Ogino, Matheus Ribeiro da Silva Assis e Thayssa Alves Coelho da Silva, além de Jorlan Fernandes de Jesus que assumiu a supervisão do projeto ao lado de Elba.

Na finalização do Kit, o IOC seguiu como consultor na produção e na validação do desempenho da tecnologia.

A febre maculosa é uma doença infecciosa febril aguda não contagiosa de distribuição mundial que pode causar, na dependência da espécie bacteriana, desde formas assintomáticas até casos mais graves, com alta possibilidade de óbito.

No Brasil, uma das doenças que geram casos graves de elevada letalidade está associada à infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii (febre maculosa brasileira), transmitida principalmente pelos carrapatos das espécies Amblyomma sculptum e Amblyomma cajennense, popularmente conhecidos como carrapato-estrela.

Casos mais brandos de febre maculosa associados à espécie Rickettsia parkeri, transmitida pelo carrapato Amblyomma ovale, também têm sido descritos principalmente no estado de Santa Catarina. No mundo, existem mais de 20 espécies do gênero Rickettsiaque podem causar febre maculosa.

De acordo com dados do Ministério da Saúde e de Secretarias Estaduais de Saúde, entre 2000 e 2022, a doença, provocou 2.636 infecções, com 920 óbitos. Em 2023, o país registrou até junho, 49 casos e 6 mortes.

O Boletim Especial – Doenças Tropicais Negligenciadas, publicado pelo Ministério da Saúde em março de 2021, aponta que, no período de 2010 a 2020, a febre maculosa foi mais frequente em homens (71%), na faixa etária economicamente ativa de 20 a 39 anos. Dos casos confirmados, 63% foram hospitalizados. O local provável da infecção mais relatado pelos casos confirmados foi a zona rural, com 45%.

A maioria dos casos relata contato com carrapatos e terem frequentado ambientes de mata, rios e cachoeiras. A maior concentração de casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, onde de maneira geral ocorre de forma esporádica como casos isolados ou pequenos surtos.

No Brasil, a doença possui caráter de notificação compulsória ao Ministério da Saúde.

As informações são do Instituto Oswaldo Cruz.

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