Anticorpos capazes de neutralizar HIV poderão ter papel semelhante às vacinas, diz imunologista Michel Nussenzweig

Anticorpos monoclonais capazes de neutralizar o HIV poderão ser usados como uma espécie de vacina contra o vírus, administrados com uma ou duas aplicações por ano e, assim, se tornar uma alternativa aos antirretrovirais. Essa é a tese do médico imunologista da Universidade Rockefeller, dos Estados Unidos, Michel Nussenzweig, um dos cientistas mais influentes do mundo, em entrevista à reportagem do Portal do Butantan.

Michel e sua equipe do Laboratório de Imunologia Molecular descobriram uma forma de neutralizar o HIV através da infusão de anticorpos monoclonais. Eles isolaram anticorpos neutralizantes de pacientes infectados, cujos sistemas imunológicos tinham grande capacidade de neutralizar o vírus no sangue.

Em ensaios clínicos conduzidos no hospital da Universidade Rockefeller, em Nova York, dois desses anticorpos interferiram na infecção crônica pelo HIV, levando a quantidade de vírus no sangue de infectados abaixo dos níveis detectáveis, fornecendo proteção e tratamento contra o HIV por meses após a administração por infusão – o que sugere o controle do vírus a longo prazo.

“Os anticorpos poderiam ser administrados, provavelmente, uma vez a cada seis meses, ao contrário dos antirretrovirais que precisam ser tomados diariamente. Algumas pessoas consideram isso uma vantagem porque você pode esquecer completamente que tem HIV, que tem uma doença, por pelo menos seis meses, além de diminuir efeitos colaterais”, explicou o imunologista após apresentar os dados do estudo publicado na Nature no International Centre for Genetic Engineering and Biotechnology (ICGEB), evento sediado no Butantan em novembro.

A corrida por tratamentos que curem o HIV e vacinas que previnam a transmissão ocorre há anos sem sucesso. Atualmente, medicamentos antirretrovirais são considerados o tratamento padrão, já que seu uso perene consegue praticamente zerar a carga viral dos infectados, mas não sem efeitos colaterais e com a necessidade de tomar a medicação diariamente para fazer efeito. A corrida pela prevenção e pela cura do HIV é lembrada todos os anos em 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra à Aids, já que a doença afeta 38 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Injeção anual

A pesquisa da Universidade Rockfeller ajudou a estabelecer um novo paradigma para o desenvolvimento de vacinas e terapias para o HIV, sendo estendido até mesmo para outros vírus, como o SARS-CoV-2, hepatite B e flavivírus. O uso de anticorpos monoclonais revoluciona a medicina também no tratamento de outras doenças no Brasil.

O Butantan inaugurou este ano uma fábrica de anticorpos monoclonais onde irá produzir medicamentos com a tecnologia para o Sistema Único de Saúde.

“Hoje sabemos que temos injeções que podem ser dadas a cada seis meses que, provavelmente, serão capazes de prevenir a doença. Se conseguirmos chegar ao ponto de termos uma injeção que previne a infecção pelo HIV por um ano inteiro, seria como tomar uma vacina contra a gripe uma vez por ano, ter uma proteção anual. Não é uma vacina de fato, mas é um protetor”, destaca Michel.

Porém, o atual desafio dos pesquisadores da Universidade Rockefeller é justamente encontrar um mecanismo que permita que estes anticorpos sejam eficazes por longos períodos, para que realmente sejam incluídos como uma terapia contra o HIV em larga escala. Isso porque seu custo é superior aos antirretrovirais, além de requerer estrutura hospitalar para a infusão.

“Os anticorpos têm muitas desvantagens em comparação com a terapia antirretroviral convencional, entre as quais o custo e a necessidade de ser administrados por infusão. Por outro lado, as pessoas que tomam antirretrovirais precisam tomar pílulas todos os dias, o que faz lembrá-las diariamente que estão doentes e ninguém gosta de ser lembrado de que está doente o tempo todo”, conclui Michel.

As informações são do Portal do Instituto Butantan.

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