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Crianças não vacinadas são o grupo de maior risco da Covid-19 em nova onda, diz infectologista Julio Croda

Foto: Butantan.

As crianças não vacinadas são o grupo mais vulnerável à Covid-19 nesta nova onda da doença no Brasil, causada pela disseminação de sublinhagens da variante ômicron. Esse panorama está atrelado à baixa cobertura vacinal e se deve também à alta mortalidade de crianças pela Covid-19 no Brasil, segundo o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Julio Croda.

“Comparativamente às doenças imunopreveníveis, a Covid-19 matou mais do que qualquer outra doença prevenível pela vacinação. Então, é um risco bastante elevado as crianças estarem sem vacinação em uma nova onda. Essa é a população que está mais sob risco porque não há vacinas sendo ofertadas”, afirmou o médico ao Portal do Butantan.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da CoronaVac, vacina contra Covid-19 do Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac, em crianças de 3 a 5 anos em julho deste ano. A vacina já era autorizada para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos desde janeiro de 2022 e para adultos e idosos desde o começo da campanha de vacinação, em janeiro de 2021. Em todos os públicos, a imunização se dá pelo mesmo esquema vacinal: duas doses com intervalo de 28 dias entre elas.

Apesar da aprovação do órgão regulatório, apenas 5,5% das crianças entre 3 e 4 anos receberam as duas doses da vacina até 7/11 no Brasil, segundo dados do Vacinômetro Covid-19 do Ministério da Saúde levantados pelo Observa Infância da Fiocruz. De acordo com o levantamento, apenas 938.411 crianças nessa faixa etária tomaram a primeira dose, e somente 323.965 tomaram as duas doses de um total de 5,9 milhões de crianças de 3 a 4 anos elegíveis à imunização.

Para Croda, um dos motivos da baixa adesão é a falta de doses disponíveis para este público no Sistema Único de Saúde (SUS), pelo fato de o Ministério da Saúde não ter adquirido um número suficiente de vacinas.

“Quando a gente fala na sobrecarga do serviço de saúde, estamos falando mais dos idosos, mas, proporcionalmente, as crianças estão mais sob risco por conta de não estarem vacinadas neste momento. O Brasil está muito lento para ofertar vacinas para crianças de seis meses a cinco anos. Temos a CoronaVac, que está em falta em muitos estados porque o Ministério não adquiriu o suficiente”, destacou.

O Butantan produz a CoronaVac a partir da demanda vinda do Ministério da Saúde, que distribui as doses para os estados. Em setembro e novembro, o instituto enviou duas remessas de 1 milhão de doses cada, em dois aditivos ao contrato para o fornecimento de 10 milhões de doses firmado com o Programa Nacional de Imunizações (PNI) no início de janeiro deste ano.

A estimativa é que são necessárias cerca de 12 milhões de doses para vacinar todas as 6 milhões de crianças brasileiras de 3 a 5 anos com as duas doses do imunizante.

Mortes de crianças por Covid

Um levantamento do Observa Infância mostrou que a Covid-19 pode ser letal em crianças, sobretudo entre as não vacinadas. Desde o início da pandemia, a doença matou ao menos duas crianças menores de 5 anos por dia no Brasil. Entre 2020 e 2021, 1.439 meninas e meninos nessa faixa etária morreram pela doença no país, com a maior concentração dos óbitos no Nordeste. Na data dos dados computados, a vacinação contra Covid-19 não estava autorizada a este público no país.

“Comparado a outros países, o impacto da Covid-19 no Brasil foi enorme nessa faixa etária. É muito importante a mobilização para que haja mais vacinas disponíveis para esse público, pois estão em falta. Não é justo que as crianças fiquem sem acesso às vacinas”, enfatizou Croda.

Vacina pode evitar onda letal

Diante da ameaça da nova onda – agravada pelo crescimento de sublinhagens da variante ômicron como a BQ.1 –, o infectologista reafirma que é essencial para evitar um novo pico de hospitalizações e mortes não somente as crianças, mas as pessoas das demais faixas etárias estarem com o esquema vacinal completo.

No Brasil, as coberturas de primeiro e segundo reforço em adultos e idosos também são consideradas baixas. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 69 milhões de brasileiros não tomaram a primeira dose de reforço da vacina contra Covid-19 e 32,8 milhões deixaram de receber o segundo reforço. A primeira dose de reforço é recomendada para pessoas acima de 12 anos, quatro meses após a segunda dose. Já a segunda dose de reforço é recomendada para pessoas acima dos 18 anos, quatro meses após a primeira dose de reforço.

“O ministério tem que agilizar, do ponto de vista federal, a disponibilização da vacina para as crianças. As pessoas não vacinadas representam um grande risco, sejam crianças ou os idosos e pessoas imunossuprimidas que não têm seu esquema vacinal atualizado”, reforçou.

Croda relembra que o Brasil viveu o pior momento da pandemia, com pessoas lotando hospitais e os idosos sendo as maiores vítimas da Covid-19, quando não se tinha imunizantes disponíveis, o que começou a mudar com a introdução da CoronaVac no Programa Nacional de Imunizações (PNI) em janeiro de 2021.

“Se não fosse a vacina do Butantan naquele momento, a gente teria um maior número de óbitos com certeza. Com a precocidade da introdução de uma vacina contra Covid liderada pelo estado de São Paulo e pelo Instituto Butantan, foi possível fazer isso principalmente para vacinar as pessoas mais vulneráveis e os idosos. A discussão que a gente faz aqui é bem clara: qualquer vacina é melhor do que nenhuma. Ficar sem ser vacinado é a pior situação”, conclui.

Matéria do Portal do Instituto Butantan.

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