Matéria do Portal Bem Paraná.
Além de ter possibilitado a retomada da economia e da socialização, a vacinação contra a Covid-19 está salvando vidas. Ontem, por exemplo, o ‘Bem Paraná’ mostrou que as mortes causadas pela doença pandêmica tiveram uma queda superior a 80% no primeiro semestre de 2022 na comparação com o mesmo período de 2021.
Agora, foi vez de analisar as informações do Banco de Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave, do Ministério da Saúde, para saber o status vacinal daqueles que sucumbiram nos últimos meses para o coronavírus. E o resultado dessa análise revela que pessoas não vacinadas ou com a imunização em atraso são a maioria entre as vítimas da Covid.
O acesso ao banco de dados epidemiológicos de SRAG é público, sendo possível baixar as informações para diferentes anos através do OpenDatasus, a plataforma de Dados Abertos do Ministério da Saúde.
Foram filtrados os registros notificados por estabelecimentos de saúde no Paraná desde o dia 1º de abril até 22 de junho, quando foi feita a atualização mais recente das informações. Ainda foram filtradas as situações cuja classificação final do caso foi de “SRAG por covid-19” e também cuja evolução do caso resultou em óbito causado pela própria doença, e não por outras causas.
A partir desse recorte chegou-se ao número de 440 mortes por Covid-19 no Paraná registradas desde abril no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), sendo que 228 dessas vítimas eram do sexo masculino (51,8% do total) e 212 do sexo feminino (48,2%).
Com relação à faixa etária, cinco dos pacientes que faleceram eram crianças (todos com idade entre um e cinco anos), 86 eram adultos (entre 18 e 59 anos de idade) e o restante, 349 pessoas, eram idosos (com 60 anos ou mais de idade). Assim sendo, os óbitos registrados no período atingiram principalmente idosos (79% das vítimas), adultos (20%) e crianças (1%).
Feito o levantamento sobre o perfil das vítimas da Covid-19 no Paraná nos últimos meses, foi hora de analisar o status vacinal desses pacientes. Embora a base de dados de SRAG disponibilizada ao público passe por tratamento que envolve anonimização, em cumprimento legal, as informações dos pacientes são integradas com a Base Nacional de Vacinação, o que permite conferir o status vacinal dessas pessoas.
Já de partida foi possível identificar que 59 dos 440 pacientes que faleceram no estado desde abril (o equivalente a 13,4% do total) simplesmente não haviam sido vacinados, ou seja, não tomaram nenhuma dose do imunizante contra o coronavírus.
Entre os pacientes que se vacinaram, 25 (ou 5,7%) chegaram a tomar a primeira dose do imunizante ainda em 2021, mas não retornaram para completar o ciclo vacinal inicial, e outros 166 (37,7%) até chegaram a tomar as duas primeiras doses do imunizante, mas não retornaram para tomar a dose de reforço (terceira dose) da vacina.
Só aí já temos um quadro no qual 250 pessoas (o equivalente a 56,8% das vítimas) vieram a falecer sem ter tomado a vacina ou sem estar com a imunização em dia.
A proporção de pessoas falecendo com a vacinação em atraso, no entanto, pode ser ainda maior. É que os dados do Sivep-Gripe informam ainda que 190 pacientes que faleceram estavam vacinados, tendo completado o ciclo vacinal inicial e tomado a dose de reforço. Desse contingente, no entanto, apenas 64 haviam tomado a dose de reforço até quatro meses antes da contaminação pelo novo coronavírus, ou seja, estavam devidamente imunizados. O restante já deveria ter tomado a segunda dose de reforço (quarta dose do imunizante), mas o sistema não confirma ou não registra se o fizeram. Dessa forma, o porcentual de pessoas com a vacinação em atraso que sucumbiu para a Covid-19 nos últimos meses pode chegar a 85,5%.
Na população mais jovem, 67% dos óbitos foi entre quem deixou de tomar alguma dose
Entre a população com menos de 60 anos foram registrados 91 óbitos no período analisado. Desses, 19 pacientes não tomaram qualquer dose do imunizante; quatro chegaram a tomar a primeira dose, mas não completaram o ciclo vacinal inicial; e 38 deixaram de tomar a dose de reforço (terceira dose) do imunizante.
Ou seja, dos 91 pacientes com menos de 60 anos que vieram a óbito, 61 (o que representa 67% do total de falecimento no período analisado) não se vacinou, não completou o ciclo vacinal inicial ou deixou de tomar a dose de reforço no prazo indicado pelos órgãos de saúde.
Além disso, entre os pacientes que chegaram a completar o ciclo vacinal e tomar a dose de reforço, 14 (ou 15,4% do total) haviam tomado a terceira dose há mais de quatro meses.
Procura cai e fila de ‘atrasados’ cresce
A procura por vacinas está em queda no Paraná. Em janeiro de 2022, por exemplo, chegaram a ser aplicadas 1.888.668 doses do imunizante em todo o estado. Desde então, contudo, a procura pela vacinação vem caindo gradativamente, tendo atingido seu menor nível no último mês, quando o total de doses aplicadas no estado foi de 521.544, número 72% inferior ao registrado em janeiro.
Com a demanda em baixa, o Paraná tem visto crescer o contingente de pessoas com a vacinação em atraso e que, consequentemente, estão mais suscetíveis a desenvolver quadros graves da doença, caso contaminados. Nesse sentido, o último levantamento da Sesa-PR revela que há mais de 5 milhões de pessoas no Paraná que estão nessa condição, sendo que 1,3 milhão não tomaram a segunda dose do imunizante e 4,3 milhões não tomaram a primeira dose de reforço, totalizando 5,6 milhões de ‘atrasados’.
A situação, aliás, não é exclusividade paranaense. No Brasil, conforme o Ministério da Saúde, mais de 111,8 milhões de doses contra covid-19 já poderiam ter sido aplicadas em indivíduos aptos, mas que ainda não buscaram postos de saúde para atualizar a imunização. São 22 milhões de segundas doses e 62,7 milhões de terceiras (primeiro reforço), em atraso, além de 27,1 milhões de quartas doses (segundo reforço) em pessoas com 50 anos ou mais.
Até ontem, segundo o vacinômetro no site da Secretaria de Estado da Saúde, foram aplicadas no Estado um total de 26,1 milhões de doses no Paraná, sendo 10 milhões de primeira dose, 9,1 milhões de segunda dose, 336 mil de doses únicas, 5,4 milhões de reforço, 396 mil de adicionais e 753,6 mil de 2º reforço.