Uma revisão sistemática publicada na última quinta-feira (10) na Revista Lancet mostrou que o número de mortes por Covid-19 no mundo pode ser o triplo do que os registros oficiais indicam, chegando a 18,2 milhões de pessoas até o final de 2021, contra os 5,9 milhões divulgados oficialmente.
Essas são as primeiras estimativas globais revisadas por pares sobre o excesso de mortes relacionadas à doença, baseadas nos dados de 74 países e 266 localizações subnacionais, inclusive o Brasil, entre 1 de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021.
A subnotificação é calculada a partir da diferença entre o número de mortes registradas por todas as doenças e o número esperado com base em tendências passadas – e é uma medida fundamental para avaliar o verdadeiro número de óbitos da pandemia. Na ciência, esse conceito é chamado de “excesso de mortes”.
De acordo com o estudo, a taxa de mortalidade não contabilizada é estimada em 120 mortes por 100 mil habitantes em todo o mundo, e estima-se que 21 países tenham taxas de mais de 300 mortes por 100 mil habitantes.
A região com mais mortes subnotificadas é o Sul da Ásia, com 5,3 milhões, seguido pelo Norte da África e Oriente Médio (1,7 milhão) e Europa Oriental (1,4 milhão). Em relação aos países, as maiores estimativas ocorreram na Índia (4,1 milhões), Estados Unidos (1,1 milhão), Rússia (1,1 milhão), México (798 mil), Brasil (792 mil), Indonésia (736 mil) e Paquistão (664 mil). “Esses sete países podem ter sido responsáveis por mais da metade do excedente global de mortes causadas pela Covid-19 no período de 24 meses”, apontam os autores.
A proporção de mortes não relatadas em relação às relatadas é muito mais elevada no sul da Ásia (9,5 vezes maior) e na África Subsaariana (14,2 vezes maior) do que em outras regiões. Segundo os autores, as diferenças podem ser explicadas pela falta de testes de diagnóstico e problemas com a notificação de mortes por Covid-19.
Para os pesquisadores, o fortalecimento dos sistemas de registro de óbitos no mundo é essencial para melhorar o monitoramento dessa e de futuras epidemias e pandemias. “Além disso, mais pesquisas são necessárias para ajudar a distinguir a proporção de excesso de mortalidade causada diretamente pela infecção por SARS-CoV-2 e as mudanças nas causas de óbito como consequência indireta da pandemia”, afirmam. Entre os efeitos indiretos, estão pessoas que não tiveram Covid-19, mas morreram em decorrência da falta de atendimento médico em hospitais superlotados.
Matéria do Instituto Butantan.