A descoberta tardia pelo atraso na realização de exames de rastreamento e a falta de acesso a tratamentos, especialmente em países em desenvolvimento, estão entre os aspectos ressaltados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como efeitos que afetam diretamente os cuidados oncológicos.
Isto mostra como a pandemia interfere no diagnóstico do câncer de mama, tornando-se um alerta neste Outubro Rosa. A organização informou que nas duas últimas décadas o número total de pessoas com câncer quase dobrou, saltando de 10 milhões estimados em 2000 para 19.3 milhões em 2020.
As projeções indicam ainda que nos próximos anos há uma tendência de elevação dos índices de detecção do câncer, chegando ao patamar de quase 50% a mais em 2040 em comparação ao panorama atual, quando o mundo deve então registrar algo em torno de 28.4 milhões de casos de câncer.
Isso significa que a cada 5 pessoas, uma terá câncer em alguma fase da vida. Nos países mais pobres, a incidência da doença deve ter um crescimento superior a 80%.
O número de mortes por câncer, por sua vez, subiu de 6,2 milhões em 2000 para 10 milhões em 2020 – uma equação que aponta que a cada seis mortes no mundo uma acontece em decorrência do câncer. E a tendência é que haja aumento nesse triste ranking.
Como a pandemia interfere no diagnóstico do câncer de mama e em outros tipos de câncer, a OMS indica que a consequência será mais casos de pacientes com câncer em estágio avançado por conta dos atrasos na descoberta e tratamentos de tumores malignos.
Em 2020, primeiro ano dos protocolos contra o novo coronavírus, o Brasil, por sua vez, teve uma grande queda na busca pelo diagnóstico. A mamografia de rastreamento, exame indicado como parte da rotina de cuidados para mulheres a partir de 40 anos, apresentou queda de 84% em comparação ao mesmo período do ano anterior. A estimativa foi feita pela Fundação do Câncer, com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS).
Outros exames fundamentais para a saúde da mulher, como o citopatológico cérvico vaginal (papanicolau), tanto para diagnóstico, como para rastreamento de câncer do colo do útero, também apresentaram queda: a redução foi de mais de 50%.
Complementarmente, um outro dado, da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) – que representa empresas do segmento de saúde suplementar – aponta uma queda na quantidade de mamografias realizadas na rede privada do país de 46,4% quando comparado o período de março a agosto de 2020 com os mesmos meses de 2019.
“Os reflexos do adiamento nos acompanhamentos médicos de rotina por medo de exposição ao novo coronavírus podem a curto e médio prazos, de fato, desencadear um aumento global nos índices de tumores descobertos em fase mais avançada. Isso vai impactar na sobrevida dos pacientes oncológicos, como uma das heranças perversas da pandemia para a saúde como um todo”, afirma Max Mano, oncologista Max Mano, do Grupo Oncoclínicas.
As biópsias também tiveram uma redução de 39,11% no Brasil, segundo o INCA, quando comparados os meses de março a dezembro de 2019 e 2020. Em 2019 foram realizados 737.804 desses procedimentos e, em 2020, um total de 449.275. As maiores quedas ocorreram nos meses de abril (-63,3%) e maio (-62,6%), período de pico da primeira onda de Covid no País e, de acordo com especialistas, a diminuição das biópsias para diagnóstico de câncer repercutem de maneira grave na mortalidade dos pacientes com câncer, já que muitas pessoas não estão sendo diagnosticadas, nem tratadas durante a pandemia, o que permite que o tumor se desenvolva.
Max Mano reforça que “o câncer não espera”. A condição faz parte do rol de doenças estabelecido pelo Ministério da Saúde, cujo tratamento não pode ser considerado eletivo. Atualmente, ainda de acordo com os dados do GLOBOCAN, mais de 1,5 milhão de brasileiros têm tumores malignos, sendo que em 2020 foram diagnosticados 592.212 novos casos e registrados 259.949 óbitos em decorrência de neoplasias malignas. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que são esperados ao menos outros 625 mil diagnósticos de câncer até o final de 2021.
Matéria do Portal Saúde Debate.