Casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), quadro clínico grave associado à Covid-19 em crianças, estão aumentando no país à medida que mais crianças se infectam com o SARS-CoV-2.
Mais de 1.500 crianças e adolescentes, de zero a 19 anos, já foram acometidos pela síndrome no Brasil, quer requer hospitalização e pode levar à morte em 6,2% dos infectados.
A vacinação contra Covid-19 é a forma mais eficaz de frear estes casos, já que a síndrome atinge os não vacinados, e por isso a imunização de crianças é ainda mais necessária, explica o diretor médico do Instituto Butantan, Wellington Briques.
“Hospitais pediátricos que tinham casos esporádicos, um a cada dois meses, agora acabam apresentando de um a três casos por semana. A única forma de diminuir drasticamente o risco da SIM-P é vacinando as crianças contra a Covid-19 o mais rápido possível”, afirma Briques.
A SIM-P é causada por uma resposta inflamatória exacerbada do organismo que ocorre de forma tardia, de duas a quatro semanas após a infecção pelo SARS-CoV-2. De acordo com o especialista, a síndrome acomete principalmente as vias respiratórias e os pulmões.
“A inflamação, que é um mecanismo de proteção, passa a ser um mecanismo de agressão. Na SIM-P ocorre uma alteração das interleucinas, que são moléculas mediadoras da resposta inflamatória: as moléculas anti-inflamatórias são reduzidas e as inflamatórias aumentam de forma descontrolada. Com isso, fica muito difícil para o corpo responder à agressão do vírus”, explica.
Como a inflamação se concentra no pulmão, a criança pode apresentar extrema dificuldade para respirar, precisando do auxílio de uma máscara com respirador ou até mesmo de intubação. Além disso, a necessidade de altas doses de medicamentos para tratar a síndrome também pode trazer complicações.
“A criança com SIM-P precisa de uma grande quantidade de corticoides, para controlar a inflamação, e de anticoagulantes. Em excesso, esses fármacos podem causar complicações, como piora da infecção ou sangramentos”, diz o médico.
Sintomas
A manifestação da doença pode incluir febre persistente por mais de três dias (mínimo de 38°C), sintomas gastrointestinais, conjuntivite bilateral não purulenta, sinais de inflamação mucocutânea, além de problemas cardiovasculares, como miocardite e hipotensão.
Os casos mais graves apresentam choque cardiogênico e, algumas vezes, podem evoluir para óbito. Desde julho de 2020, o Ministério da Saúde monitora as notificações de casos de SIM-P no país por meio de um formulário que orienta profissionais da saúde sobre o diagnóstico da síndrome.
Diante disso, o diretor médico ressalta que os pais precisam imunizar os seus filhos, pois o benefício da vacina é maior. “O risco de uma reação adversa relacionada à vacina é infinitamente menor do que o risco de uma complicação grave como essa síndrome”.
Crianças menores também precisam de proteção
Segundo dados do Ministério da Saúde, desde o início da pandemia até o dia 5/2 de 2022, dos 1.503 casos confirmados, 93 evoluíram para óbito. O maior número de infecções ocorreu em crianças de um a quatro anos e, dentre os óbitos, a maior parte foi na faixa etária de cinco a nove anos.
No Brasil, a CoronaVac é aprovada para uso emergencial para a população a partir de seis anos. A diretora de inovação do Butantan, Ana Marisa Chudzinski Tavassi, afirma que existem evidências em diferentes países do mundo de que a vacina também é eficaz em crianças mais novas, inclusive no Brasil. “Um estudo acompanhou 27 crianças brasileiras de sete meses a cinco anos que receberam a vacina de forma equivocada e o perfil de segurança foi excelente”.
Além disso, a pesquisadora reforça que a CoronaVac utiliza vírus inativado, incapaz de causar a doença. “É a mesma plataforma usada em outras vacinas que já são aplicadas em crianças há décadas e nunca ocasionaram nada grave”.
Estudos clínicos de fase 1 e 2 conduzidos na China pela farmacêutica chinesa Sinovac também já mostraram que a CoronaVac é segura e imunogênica para crianças de três a 17 anos. Já na fase 3 da pesquisa, realizada na África do Sul, mais de 4.000 crianças foram imunizadas com segurança. Destas, 200 tinham de seis a 35 meses, e também não apresentaram reações adversas.
Segundo Wellington Briques, o Instituto Butantan já solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a aprovação da CoronaVac para crianças de três a cinco anos. “Em breve eu espero que tenhamos a vacina aprovada também para essa faixa etária”, afirma.
As informações são do Instituto Butantan.