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Doenças erradicadas podem voltar por causa da baixa imunização infantil

Matéria do Portal do Instituto Butantan.

Ainda bem pequeninos, nos primeiros 15 meses de vida, os brasileiros já possuem compromissos inadiáveis: comparecer ao posto de saúde para receber as vacinas previstas no Programa Nacional de Imunizações (PNI). A famosa tríplice viral, que combate o sarampo, a rubéola e a caxumba, e a vacina combinada difteria-tétano-coqueluche são algumas delas.

Embora 90% da população reconheça a importância das vacinas, segundo pesquisa do IBOPE Inteligência de agosto de 2020, três em cada dez crianças brasileiras não foram imunizadas contra doenças potencialmente fatais. O alerta, emitido em abril, é do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). De acordo com a organização, desde 2015 ocorre uma queda da cobertura vacinal entre menores de 5 anos.

Com a pandemia do novo coronavírus a situação se agravou. De acordo com a entidade, em 2019 a imunização contra sarampo, caxumba e rubéola era de 93,1%. Já em 2021, os números caíram para 71,5%. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma abrangência mínima de 95%.

Até mesmo a vacinação contra Covid-19, tão esperada entre os pequenos, está aquém das expectativas. Segundo informações da Agência Senado, 60% das crianças entre 5 e 11 anos tomaram a primeira dose e apenas 30% tinham o esquema vacinal completo em maio.

A seguir, confira algumas das consequências que a baixa imunização infantil pode trazer não só para as crianças, mas para a saúde pública:

1. Retorno de doenças erradicadas

Um estudo conduzido pela Unicef apontou uma baixa percepção entre os pais e responsáveis do real risco que essas doenças representam – por nunca terem convivido com a condição, muitos entendem que a vacina já não é mais necessária.

Não imunizar pode colocar todos em risco. Em 2016, por exemplo, o Brasil conquistou o certificado de eliminação do vírus do sarampo. Entretanto, em 2018 a doença voltou. Com mais de 10 mil casos confirmados na época, segundo o Ministério da Saúde, o país acabou perdendo a certificação. Poliomielite, rubéola e difteria são algumas das doenças que podem ressurgir devido à baixa cobertura vacinal, de acordo com informações da Agência Brasil.

2. Crianças mais expostas a doenças

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza 18 vacinas para as crianças e adolescentes. Todas protegem contra doenças que podem causar problemas sérios e até a morte, especialmente entre aqueles com sistema imunológico comprometido ou em desenvolvimento, como os recém-nascidos e os bebês.

Uma dessas doenças é a poliomielite, erradicada do país em 1994. Causada por um vírus do intestino, costuma atingir crianças menores de 4 anos. Quando grave, pode causar sequelas permanentes, como paralisia, insuficiência respiratória e, em determinados casos, óbito.

No caso da Covid-19, há risco de complicações como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), quando a criança desenvolve inflamação em diferentes órgãos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que leva a desconfortos respiratórios e queda na saturação – esse último, também pode ser consequência da contaminação pelo vírus influenza, causador da gripe.

Não à toa, as crianças menores de 5 anos são público-alvo das campanhas de imunização contra a influenza. No início de junho, a vacinação contra a gripe atingiu uma cobertura de apenas 44% considerando todos os grupos prioritários, de acordo com o Ministério da Saúde.

3. Mais vetores de transmissão e novas variantes

Um estudo da Escola de Medicina de Harvard em parceria com o Brigham and Women’s Hospital e com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) atestou altas cargas virais de SARS-CoV-2 entre bebês, crianças e adolescentes que testaram positivo para o novo coronavírus. Publicada em outubro de 2021 e conduzida com 110 pessoas com idade entre duas semanas e 21 anos, a pesquisa mostrou que, assim como os adultos, as crianças e jovens são potenciais transmissores de Covid-19, mesmo quando assintomáticos.

De acordo com os especialistas, os pequenos são como “reservatórios” para a evolução de novas variantes do vírus SARS-CoV-2, que podem ser mais contagiosas e, consequentemente, adoecer mais crianças.

4. Aumentos de outras doenças

Doenças que podem trazer graves consequências na vida adulta, se não houver imunização, também preocupam, analisa o Unicef. É o caso do papilomavírus humano (HPV), causador do câncer de colo do útero. Segundo a organização, apenas 13% das meninas de todo o mundo estão protegidas contra a condição – a vacina está disponível no PNI para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos.

Graças a esse imunizante, o câncer cervical pode ser o primeiro tipo a ser completamente eliminado, e a vacinação é essencial para isso. De acordo com a OMS, isso é possível se 90% das meninas e das jovens de todo o mundo forem vacinadas contra o HPV, se 70% das mulheres fizerem exames regulares e se 90% das pacientes com alguma doença cervical tiverem acesso a tratamento.

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