Reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em outubro de 2021, a Covid longa consiste na persistência ou desenvolvimento de novos sintomas, como fadiga extrema, falta de ar, dificuldade de concentração e perda de memória, após a infecção pelo SARS-CoV-2. A doença pode durar de meses a anos e atingir qualquer pessoa infectada, independente da gravidade da infecção, inclusive crianças e bebês.
Mas uma revisão sistemática publicada na última quarta (8/2) na revista Vaccine mostrou que indivíduos vacinados têm menos risco de desenvolver a Covid longa do que aqueles que não tomaram vacina contra a Covid-19. Os dados reforçam a importância da imunização, que segue em ritmo lento no Brasil, com baixa procura pelas doses de reforço e somente 3,9% dos menores de 5 anos vacinados.
A revisão conduzida por pesquisadores do Japão, Reino Unido e Estados Unidos incluiu seis estudos independentes, totalizando dados de 500 mil pessoas que não tomaram o imunizante e 80 mil vacinados. Os indivíduos imunizados apresentaram menos risco de desenvolver Covid longa e uma menor incidência de sintomas como fadiga persistente e distúrbios pulmonares. Além disso, pessoas que completaram o esquema vacinal de duas doses ficaram mais protegidas contra a condição do que aquelas que receberam apenas uma dose.
Os autores também ressaltam a importância das doses de reforço nesse contexto. “Como muitos artigos demonstraram a eficácia da vacinação em duas doses e reforços adicionais na redução da mortalidade e casos graves, a proteção mais eficaz contra a infecção aguda também pode ser uma medida razoável para evitar as sequelas debilitantes e duradouras”, informa o artigo.
A falta de adesão às doses de reforço pela população brasileira gera preocupação. Segundo o Ministério da Saúde, até o final de 2022, mais de 69 milhões de pessoas ainda não haviam tomado a primeira dose de reforço da vacina contra a Covid-19, enquanto 32,8 milhões que poderiam ter recebido o segundo reforço também não retornaram aos postos de saúde. Cerca de 80% da população do país completou o esquema inicial de duas doses, enquanto apenas 50% voltou para tomar o reforço.
O Ministério da Saúde recomenda uma dose de reforço para pessoas a partir dos 5 anos e duas doses de reforço para indivíduos acima dos 40, que devem ser administradas após 4 meses da última dose. No estado de São Paulo, o segundo reforço é liberado para maiores de 18 anos, e há ainda um terceiro reforço (ou quinta dose) indicado para adultos com alto grau de imunossupressão.
Covid longa afeta a qualidade de vida e o trabalho
Estudos já demonstraram que a Covid longa pode deixar sequelas duradouras e até permanentes nos pacientes, afetando inclusive o trabalho, de acordo com a Sociedade de Medicina Ocupacional do Reino Unido. No Brasil, um estudo recente da Fiocruz mostrou que quase 60% dos infectados pelo SARS-CoV-2 desenvolvem Covid longa e apresentam sintomas durante pelo menos três meses após a fase aguda da infecção. Fadiga, ansiedade, perda de memória e queda de cabelo foram alguns dos principais problemas apontados pelos pacientes.
Mais de 200 sintomas já foram reportados no pós-Covid, segundo a OMS. No entanto, ao fazer uma comparação com outras doenças respiratórias, pesquisadores americanos da Universidade de Missouri sugeriram que apenas sete sintomas estão diretamente associados à Covid longa: palpitações cardíacas, queda de cabelo, fadiga, dor no peito, falta de ar, dor nas articulações e obesidade.
Além da não vacinação, um dos fatores de risco para desenvolver a doença é o sedentarismo, segundo um estudo da Universidade de São Paulo (USP). Cerca de 60% dos pacientes diagnosticados com Covid longa não praticavam exercícios físicos. Falta de ar (132%), fadiga (101%), insônia (69%), estresse pós-traumático (53%) e dor muscular/articular intensa (53%) foram associados a maiores chances de inatividade física.
As informações são do Portal do Instituto Butantan.