5 de março de 2024
Todos os anos, entre os meses de abril e maio, cerca de 80 milhões de brasileiros possuem um compromisso inadiável: comparecer ao posto de saúde mais próximo de sua residência para receber a dose atualizada da vacina da gripe e se proteger contra possíveis complicações desencadeadas pelo vírus influenza. Porém, em 2023, cerca de 40% da população-alvo – como idosos, crianças entre 6 meses e 6 anos e gestantes – deixou esse dever para depois.
“No caso da vacina Influenza, realizar a vacinação dentro do prazo estipulado pela campanha é de enorme importância. Como o vírus tem circulação sazonal, aumentando no início do outono e alcançando seu pico entre junho e julho, tudo é pensado para que a população mais vulnerável à doença seja imunizada e esteja de fato protegida antes do início desse período”, explica a gestora médica de desenvolvimento clínico do Butantan Carolina Barbieri.
Afinal, com a chegada dos dias mais frios, é normal que as pessoas passem mais tempo em locais fechados. Esses ambientes são ideais para a transmissão de doenças do trato respiratório, caracterizadas pelo contato com pequenas gotículas de saliva ou partículas aerossóis de uma pessoa já contaminada.
Idealmente, a campanha contra a gripe se concentra entre os meses de abril e maio – por mais que, nos últimos anos, esse período tenha sido postergado. Como o organismo precisa de sete a 14 dias para iniciar a produção de anticorpos, alcançando seu máximo cerca de um mês depois da aplicação da vacina, o período estabelecido é ideal para que esse pico de imunidade coincida com o auge da circulação da influenza, freando assim sua transmissibilidade e aumentando sua efetividade.
“É por isso que o produto não é aplicado mais cedo. Já se a pessoa deixar para se vacinar tardiamente, em agosto, por exemplo, ela ficará desprotegida durante os momentos mais intensos de circulação do vírus, correndo o risco de se infectar e até desenvolver quadros severos de gripe”, alerta Carolina Barbieri.
Outra questão importante sobre a Influenza é o público-alvo. A determinação dos grupos que devem ser vacinados leva em conta não apenas aqueles que podem ter mais complicações, como os idosos, as pessoas com comorbidade, as gestantes, as crianças e os imunossuprimidos, mas também os grupos que mais contribuem para a transmissão do vírus – caso dos pequenos, importantes vetores dentro dos núcleos familiares, principalmente para os avós; e dos profissionais mais expostos a infecções por microrganismos, como os trabalhadores da saúde e da educação.
“A estratégia de imunização contra a gripe no Brasil é de excelência, pois segue à risca todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde, levando em consideração a valiosa tríade de pessoa-tempo-espaço”, avalia a gestora médica do Butantan.
Além de controlar a doença sintomática, evitando a evolução para quadros mais graves, a vacina Influenza desempenha uma importante função para a saúde pública, reduzindo a sobrecarga dos serviços de saúde e a mortalidade. Para atingir esse objetivo, é essencial atingir uma alta cobertura vacinal, chegando então à tão falada “imunidade coletiva”.
Em 2023, o Ministério da Saúde tinha como meta vacinar 90% do seu público-alvo, mas nenhum dos grupos chegou próximo ao índice. Dentre os 5.629 óbitos notificados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no país até dezembro do ano passado, com resultado laboratorial positivo para algum vírus, quase 14% foram casos confirmados de Influenza, segundo o Boletim INFOGripe.
Uma vacina diferenciada
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza gratuitamente 32 vacinas à população brasileira. Aplicadas nos diferentes ciclos de vida, geralmente elas se dividem em duas principais estratégias: as de rotina, que são recomendadas de acordo com a idade e têm como objetivo proteger contra as doenças imunopreveníveis que mais afetam uma certa faixa etária; e as de campanha, caracterizadas por um esforço que acontece em um determinado intervalo de tempo para reduzir ou até mesmo controlar ou eliminar uma doença.
Implementada em 1999, a campanha nacional de vacinação contra a gripe tem suas particularidades. “É um caso que fica entre a imunização de rotina, pois está prevista no nosso calendário anual a partir dos 6 meses de vida, com público-alvo específico, mas em modelo de campanha, uma vez que tem prazo para começar e terminar”, esclarece Carolina Barbieri.
Tamanha especificidade está relacionada às próprias características do vírus, que tem enorme capacidade de mutação. É por isso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) mantém em todo o mundo uma vigilância ativa para entender quais os tipos de vírus influenza que estão circulando nos dois hemisférios – as regiões apresentam padrões de circulação bem diferentes entre si.
Com base nesses dados, a entidade realiza dois anúncios anuais sobre as três principais cepas que devem compor o imunizante da campanha seguinte: um em fevereiro, direcionado às farmacêuticas que produzirão vacinas para o Hemisfério Norte; e outro em setembro, para os produtores de imunobiológicos para uso no Hemisfério Sul – caso do Instituto Butantan, responsável por fabricar as mais de 80 milhões de doses de vacinas contra a gripe disponibilizadas na rede pública de saúde. “Daí a importância de se vacinar contra a gripe todos os anos, mesmo que você já tenha recebido as doses que foram aplicadas nos anos anteriores”, diz.
Depois das orientações da OMS, começa uma corrida contra o tempo para a produção do produto. “É um período bastante curto para a produção, visto que em março os primeiros lotes já precisam ser disponibilizados ao Ministério da Saúde”, completa Carolina Barbieri.
As informações são do Instituto Butantan.